Luto 4 Fev

No dia 18 de janeiro de 2013 eu acordei às seis e meia da manhã, com um telefonema da minha irmã. Àquela hora, eu já sabia o que poderia ser. Poucas horas depois, abraçava o corpo do meu pai, deitado com face serena, em sua própria cama, onde havia expirado. Beijei-o muitas, muitas vezes, e conversei com ele como sempre fiz, pedindo, em meu pensamento, que a minha mãe tivesse sido a mensageira de Deus naquela passagem.
 
Poucos dias depois, todos nós envoltos nos laços silenciosos do luto, levei minha sobrinha ao aeroporto, de volta à California, à universidade e à vida, que não espera. Era domingo, dia 28 de janeiro, umas oito horas da manhã. Por uns poucos segundos, descendo a escada rolante do Salgado Filho, encontrei os olhos de uma mulher de uns 30 e poucos anos, que chorava, sozinha, agarrada ao corrimão do andar superior. Nos fitamos por apenas uns segundos, e lembrei de mim mesma, há poucos dias, num voo doméstico, chegando a Porto Alegre para abraçar meu pai. Compreendi aquela dor solitária, compartilhei com aquela estranha um luto que nem mesmo tinha condições de avaliar. Apenas instantes depois, ligando a televisão, tive o entendimento daquelas lágrimas.

Enlutamos todos, eu pelo meu pai de 84 anos plenos, o Rio Grande do Sul e o Brasil pelos mais de 200 jovens, crianças como a minha sobrinha, que já estava naquele momento, sã e salva em Los Angeles, de volta ao seu cotidiano de aluna. Viva. Enquanto helicópteros cruzavam os céus do Bonfim porto-alegrense, e minhas irmãs e eu nos deparávamos com a avassaladora ausência do pai protetor e onipresente, jovens vidas eram veladas, algumas transportadas por todos os meios, na mais incrível operação de salvamento e solidariedade que eu já presenciei em minha terra, aos 51 anos de idade.
Flor solitária, colocada na lápide da Família Guimarães em Taquari, RS
Não há palavras para o luto. Mesmo a passagem esperada não consegue suavizar o vazio inexplicável,  contra o qual talvez apenas a fé nos defenda. Não há uma manhã em que não se acorde de frente para o vácuo, e nosso primeiro pensamento não seja para aquele ser humano que esteve conosco todos os dias. Para quem vou contar esta mesma história que agora escrevo, com quem vou debater as ideias do presente, os planos do futuro, onde vou encontrar um olhar solidário, firme, cuidador, que minimamente se aproxime do pai que se foi?
Não há palavras para o luto das jovens vidas de Santa Maria. Talvez a espiritualidade seja nossa defesa frente ao total sem-sentido desta situação dantesca, que não cessa de nos comover. Não há fuga do luto, e como sabem os adultos, como eu sei, apenas o tempo ameniza esta dor.
Sem nenhuma sugestão terapêutica neste artigo, como venho fazendo aqui há meses, ouso no entanto sugerir que todos nós, aqueles que vivem o luto e aqueles que se compadecem com a dor de tantos, levantemos por um minuto nosso olhar para o alto, e dentro de nossos corações, façamos uma prece pelo acolhimento de todos no coração de Deus. As preces são o balsamo que cura os que ficaram e os que se foram, e iluminam o caminho terreno e a nova vida do espírito. Luz, Fé e Amor para todos.



 

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